sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A Grande Sede


Se tens sede de Paz e d'Esperança,
Se estás cego de Dor e de Pecado,
Valha-te o Amor, ó grande abandonado,
Sacia a sede com amor, descansa.

Ah! volta-te a esta zona fresca e mansa
Do Amor e ficarás desafogado,
Hás de ver tudo claro, iluminado
Da luz que uma alma que tem fé alcança.

O coração que é puro e que é contrito,
Se sabe ter doçura e ter dolência
Revive nas estrelas do Infinito.

Revive, sim, fica imortal, na essência
Dos Anjos paira, não desprende um grito
E fica, como os Anjos, na Existência.

Cruz e Sousa

Muito se fala de Paz e Esperança no final de cada ano, eis um soneto de Cruz e Sousa para aqueles que as buscam. Feliz 2011!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

SONETO DE NATAL


Um homem, — era aquela noite amiga,

Noite cristã, berço no Nazareno, —

Ao relembrar os dias de pequeno,

E a viva dança, e a lépida cantiga,


Quis transportar ao verso doce e ameno

As sensações da sua idade antiga,

Naquela mesma velha noite amiga,

Noite cristã, berço do Nazareno.


Escolheu o soneto... A folha branca

Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,

A pena não acode ao gesto seu.


E, em vão lutando contra o metro adverso,

Só lhe saiu este pequeno verso:

"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Machado de Assis

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O homem; as viagens

O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte
ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro
diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,
vê o visto
é isto?
idem
idem
idem.

O homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
do solar a col-
onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Soldado Discípulo



Nobre soldado,
olhe a parte divina
do teu semelhante.

Sem assombro,
cortar-te a própria capa
aqueça a alma pedinte.
 
Reconheça o ocaso
de um inverno cinza,                                   
a dissipar-se na irmandade.
 
Contempla-te o espelho
da imutável leveza
da generosidade.
 
Revigore o esquálido,
com tua iniciativa
apreendida de teu MESTRE.
 
Sejas o desconhecido
que sustenta a pátria,
da mão que a outra se une.


Jonny Sousa Brito
Aluno do Curso de Filosofia e da oficina de poesia
Nova Acrópole - Guará


Poema feito em homenagem ao dia 11 de novembro:


- Dia de São Martinho: Martinho era um soldado romano que vendo um mendigo com frio na chuva, com a espada cortou sua capa e deu parte dela ao mendigo. Parou de chover.

- Dia do Soldado Desconhecido: se homenageiam aqueles que morreram pela Pátria e não puderam ser identificados ou resgatados.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A PALAVRA MÁGICA

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
A senha do mundo
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ler poesia é uma arte


"Não basta saber ler para ler poesia. Ler poesia é uma arte. Exige que o leitor se coloque numa posição especial de alma. O segredo da poesia está na música da leitura. Mais do que uma arte: é um ato de bruxedo. O leitor invoca um mistério que se encontra nos interstícios das palavras do poeta. Essas palavras estão dentro dele mesmo. O poema faz-me ouvir um poema que está dentro de mim. Esse poema que está dentro de mim é um pedaço de mim."
Rubem Alves

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Aninha e suas pedras




Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Cora Coralina (Outubro, 1981)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Revisão



Comecei a rever os versos
De um poema ainda inconcluso.
Pensei tirar os controversos,
O que merece ser excluso.

Cortei o que era paixão cega,
Era excessivo sentimento.
Cortei matemática seca,
Era excessivo pensamento.

Sobrou só o que mais importa,
Somente aquilo que perdura,
O que há de mais elevado.

Restou o que não desgasta,
Somente o que sempre dura,
O que há de mais encantado.

Guilherme dos Reis

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

MARIO QUINTANA


PROJETO DE PREFÁCIO

Sábias agudezas... refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras.



OS POEMAS

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...



Um pouco de metalinguagem...


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A ARTE DE SER FELIZ


HOUVE um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa e sentia-me completamente feliz.

HOUVE um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém a minha alma ficava completamente feliz.

HOUVE um tempo em que minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava histórias. Eu não podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que a ouvisse, não a entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, a às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

HOUVE um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

MAS, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles



Trata-se de uma crônica, mas certamente com um rastro poético que ela sempre soube imprimir em toda sua obra. Confiram mais sobre Cecília Meireles no café filosófico neste sábado, 23/10, na Nova Acrópole filial guará, às 19h.
"Filosofia e Metafísica na obra de Cecília Meireles"

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

DISQUISIÇÃO NA INSÔNIA


Carlos Drummond de Andrade


Que é loucura; ser cavaleiro andante

Ou segui-lo como escudeiro?

De nós dois, quem o louco verdadeiro?

O que, acordado, sonha doidamente?

O que, mesmo vendado,

Vê o real e segue o sonho

De um doido pelas bruxas embruxado?

Eis-me, talvez, o único maluco,

E me sabendo tal, sem grão de siso,

Sou - que doideira - um louco de juízo.


* Disquisição: exame; indagação, investigação, pesquisa.

Para os interessados em conhecer um pouco mais sobre a filosofia presente na obra Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, convidamos para a palestra com entrada franca, que ocorrerá na filial Nova Acrópole de João Pessoa, neste sábado, dia 23/10, às 19h. Mais informações no site www.acropole.org.br .

domingo, 17 de outubro de 2010

Musas e Mestres


Em homenagem a Jorge Angel Livraga,

o Mestre poeta, amigo das Musas, que nos inspira a amar e a viver a poesia.



Do poder da consciência celeste

Com o mais puro da nossa memória

Nascem as nove musas

Tríades inspiradoras da sonhada glória.



Na cadência leve e de apaixonada juventude,

Terpsícore nos embala em sua dança singela:

Simplicidade para encontrar o ritmo da vida,

Fortaleza da lira harmoniosa e bela.



Euterpe, com sua flauta singular e doce,

Reflete a beleza de tornar-se instrumento

Do sopro divino que faz vibrar a alma

Ecoando música em todos os momentos...



Do olhar sonhador de Erato,

Nasce a poesia filha de Eros, o jovem Amor.

Nas flechas mágicas de suave perfume

O verso belo e puro da flor.



Da beleza da rosa à experiência do espinho,

Melpômene nos traz a tragédia da vida

Máscara envolta em profundo mistério,

Dor que merece ser compreendida.



Talia nos recorda o poder da comédia,

Que a tudo veste de contagiante alegria,

Janela que abre endurecidos corações

E desperta sentimentos de pura magia.



Calíope sintetiza lágrimas e sorrisos,

na poesia que inspira o valoroso heroísmo.

Gigantes, cavalheiros, derrotas e vitórias

Aventuras de nobre e encantador lirismo.



Em seus papiros e livros,

Registros fiéis da humana trajetória,

Clio nos ensina em espirais e ciclos

A colher o melhor de nossa história.



Caminhando no compasso do Todo

Que a tudo une em delicado verso

Urânia nos lega a sagrada astronomia

E nos conecta ao mistério do Universo.



E na leveza misteriosa do véu sagrado de Polímnia

Fecha-se o ciclo de harmonia e beleza

Inspiração para transformar hinos em vida

Expressões puras e fiéis da verdadeira Natureza.



Os Mestres nos recordam que a glória é indefinível,

Porém possível de ser vivida e real

Mestres e Musas, presentes divinos,

Estrelas inspiradoras do nosso Ideal.


Gabriela Leite - João Pessoa

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Versos (Cruz e Sousa)



(Desterro, 9 abr. 1881)

Admirai Carrara, Canova, Rafael,
Murillo, Mozart e Verdi e tereis
as sublimes, mais que sublimes,
as divinas encarnações da arte!
(Do Autor)


Bravo, prole bendita
Pois à glória infinita
O lutar vos conduz!
É assim — trabalhando
Sempre e sempre estudando
Que se alcança mais luz!

Contemplai estas flores
Estes tantos lavores
Contemplai o painel!
Repetindo orgulhosos
Estes feitos briosos
São dum belo pincel!

Eia, jovens, avante!
Ser artista é brilhante,
Trabalhar é uma lei!
Não são só os c’roados
Que merecem em brados
Ter as honras de rei!

O artista qu'é pobre
É tão rico, é tão nobre
Qual potente césar!
E a glória bem cedo
Lhe murmura o segredo
— És artista — és sem par!

Não temais os pampeiros
Sois gentis brasileiros
Deveis pois progredir!
Quem vos traça na história
Vossa augusta memória
É um deus — O Porvir!

Levantai-vos potentes
Altanados, ingentes
E fazei-vos Criseus!
Só quem pode vergar-vos
E pensar obumbrar-vos
Mais ninguém — é só Deus!

Não fiqueis ignavos
Que o futuro dá bravos
Vos dizendo — estudai!
Sois humanos — portanto
Se há de trevas um manto
Apressai-vos, rasgai!

Nossa pátria querida
Necessita mais vida,
Necessita crescer!
É preciso contudo
Que tenhais como escudo
Quem vos mostra o saber!

E de obreiros altivos,
Que sereis redivivos
Que sereis imortais,
Achareis vossos nomes
Vossos grandes renomes
Nas mansões divinais!

Perdoai-me estas flores
Que tão murchas, sem cores
Nada podem valer!
São ofertas sinceras
Arrancadas deveras
Para vir vos trazer!

Palinuros — à frente
Esse trilho é ridente
Dás-vos honra, louvor!
Quem o braço vos guia
Nunca, nunca entibia —
— É artista... e pintor!

É a vós a quem falo
E se hoje eu não calo
Estas vãs expressões!
É que a louca alegria
Em minh'alma irradia
Com fulgentes clarões!

O trabalho enobrece
Glorifica, engrandece
Aos artistas quais vós!
Que zombando da sorte
Têm a tela por norte
Os pincéis por faróis!

Eia! nessa carreira
Qual a nau sobranceira
Indo o mar a fender!
Quando há negros abrolhos,
Mil cachopos, escolhos
É mais belo o vencer!

Se o lutar é dos grandes
Que são gêmeos dos Andes
Que não sabem tombar!
Colhereis uma glória
Mais suprema memória,
Trabalhando, a lutar!

Deus, o Deus sublimado
Disse ao homem num brado,
Da sidérea mansão!
— Vai depressa arrimar-te
Aos arcanos da arte,
Que terás um bordão!

Onde há braços d’artista
E seu ponto de vista
Decepar escarcéus!
E seu gládio seguro
Vai cavar o futuro
Vai rasgar negros véus!

E lá quando os vindouros
Vos c'roarem de louros
Vos erguerem docel!
Bradarão altaneiros:
— Exultai brasileiros,
Ressurgiu Rafael!

Não temais os insanos,
Insensatos humanos
Bajulantes e maus!
Trabalhai muito embora!
Há de vir uma aurora
P’ra arrancá-los do caos!

Away, estudantes
Sois vergônteas pujantes
A lauréis tendes jus!
Caminhai com coragem,
Qu’esta é a romagem
Dos apóstolos da luz!!!...



E por falar em Cruz e Sousa...
O André postou um lindo poema desse autor na segunda e tivemos a declamação desse (Versos) na filial Guará, também na segunda. Não pude deixar de compartilhar com vocês.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Inefável


Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda...
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado ao Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
Das estrelas todo o céu em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!

Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque as amo
Na minha alma volteando arrebatadas.

Cruz e Sousa

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Aceitação


Deixe que caiam uma a uma
As folhas secas da tua paisagem
Mais uma vez se faz inverno
E dentro de ti também há folhagem.

Se o Sol se esconde, pobre de ti,
Buscai-o invicto
Teus galhos nus apontando para o céu
Sedentos de nova vida, contrito.

Se tuas raízes resistem profundas
Ao frio, ao escuro e à seca
Talvez seja bom presságio
De uma Primavera mais plena.

Se pelos ciclos a vida transita
Observa e compreende o que te tornas
Contempla que nasces e morres a todo instante
Elege ser o que está acima das formas.

Consagra teu destino
Faz flamejante teu coração
Além das estações és discípulo
E teu nome aceitação.

Flávia Fernandes
Sede Nacional


Este poema ficou em terceiro lugar no Concurso de Poesia dos Jogos da Primavera de 2010. Acompanhem abaixo a demais ganhadores.

Quando se Perde a Poesia


Perdi minhas anotações!
Uns livres versos tão serenos...
Estou agora em turbilhões
Por deles nem lembrar ao menos!

Passei horas neles pensando,
Passei penas por repassar,
As horas me irritam, lembrando:
“Pararam em um não-lugar...”

Qual era o mote de meus versos?!
Alguma coisa sobre a...calma?

Mais uma vez o Universo
Ensina algo à minha Alma.

Profunda essência do problema
Eu captei no que escrevia:
- De minha vida, perco poemas,
Mas não se perde a Poesia.

André Vasconcelos
Sede Nacional


Esta poesia ficou em segundo lugar no Concurso de Poesias dos Jogos deste ano.

Oração e Poesia


A melhor oração é a poesia,
seu altar é na natureza.
No evangelho da vida
o culto é à beleza.
Nascem palavras por inspiração
frutos doces da árvore da vida
que transformados em vinho
trazem reflexões sublimes
na forma amena de um carinho.
Na pureza da intenção simples
formam versos meninos,
espontâneos, leves, livres.
sonhadores... Divinos

A poesia é a melhor oração
e a beleza a maior devoção.
No sagrado do coração,
por uma escada do alto ao chão
os versos sobem e descem
por ordem e poder da inspiração.
As mágoas da existência desaparecem
e os sonhos se estabelecem
no paraíso da imaginação.

A poesia é uma bonança
que tem a energia da criança,
e sopra como brisa fresca,
bem aventurada e mansa.
Na escuridão da tristeza
é uma pequena vela acesa
que atiça uma fogueira
e aquece o pensamento,
dando esperança ao momento,
iluminando a alma inteira.

A Poesia é uma musa divina,
faz-se bonita em clareza e verdade.
Eterna menina em toda idade.
Orientadora, tal como a estrela
que no céu se faz luz para o poeta vê-la.
Noiva dedicada e carinhosa,
nada quer em sacrifício ou oferenda.
Já é dela o reino dos céus.
Pede somente que se a perceba e entenda
sendo o poeta, seu namorado na senda
que com respeito, retire seus véus.

A melhor redenção é a poesia
escrita na lousa da existência,
supera o poeta em permanência.
Viverá mesmo depois do dia
em que livre a alma voar sozinha
e o corpo prostrado, fizer leito no chão.
Cordeira de Deus em beleza se justifica.
Em liberdade, plenifica a vida.
Em versos de amor eterniza a emoção.

Autor: Wilson Trannin
Nova Acrópole Cuiabá

Essa foi a poesia vencedora do Concurso de Poesias dos Jogos da Primavera de 2010.
Em breve as outras vencedoras!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

À Beleza

Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curvas ao jugo dos tiranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço...
Mas sem corpo, sem pátria e sem família,
Tudo repousa em paz no teu regaço.

Miguel Torga, in 'Odes'



Como sempre à Beleza.
Aguardem semana que vem as poesias vencedoras do Concurso de Poesia dos Jogos da Primavera.
Marluce Claudia

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Receita

Poeta não precisa saber de letra.
Isto a escola pode ensinar.
Aluno da vida, a ela sabe cativar.
Faz na alma uma espera silenciosa.
Veste-se de menino caçador,
Arma uma arapuca harmoniosa
Pra pegar o pássaro do Amor.

Poeta tem que ter humildade
Ter cuidado com a vaidade
Saber que Deus é o Poeta de verdade
Ele quando doa a inspiração
Exige do aluno especial atenção
Pra perceber aquele algo mais.
Coisas lindas, pra muitos, banais.
Mas pro aprendiz, maravilhosas.
E o pequeno poeta querendo mais.
Na poesia se faz criança nova.
Que procura o colo dos pais.

Ser poeta
É como tocar um instrumento
Silencioso por fora,
Harmonioso por dentro
Ninguém ouve a voz de uma flor
Ou o som do amanhecer
Foi em silêncio que Deus plantou o amor.
É no silêncio que Ele o faz crescer.
É no silêncio que se faz Poesia.
Escutando o que Deus tem a dizer.

Autor: Wilson Trannin
Nova Acrópole Cuiabá


Essa foi uma das poesias vencedoras do Concurso de Poesias dos Jogos da Primavera de 2009. As inscrições para o concurso deste ano ainda estão abertas. Participem!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Companheira da Vida Interior

Musa Suave e Ritmada

Estado sublime do Verbo

Estavas no início dos tempos

Puro Lirismo, êxtase, contemplação

Majestade!

Divina portadora da Beleza

Ponte entre este mundo e o mais além


Tu te escondes em todos os lugares

No cair de uma flor

Na indefinição misteriosa do pôr-do-sol

Na mansuetude do lago

Na generosidade portentosa do jatobá

No caminhar marcial das formigas e

No perfume quase imperceptível da rosa.


Nem todos podem contemplar-te

Onde estão as lentes que permitem ver-te?

Qual a forma perfeita para conter-te?

Não há!

Tu apenas passas por elas

Maya não é capaz de reter-te por muito tempo.

Não és deste mundo.


Acresces doce às palavras

Torna-as grandes,

Maiores do que são.

És capaz de elevar o homem a alturas inconcebíveis

Andas de mãos dadas com a consciência

Concedes asas a quem percebe tua presença.

Fiel serva de Apolo!


Permita-me recebê-la

Visita minha Alma

Leve-a contigo para os cumes de onde vens

Revela-me o Segredo de tua Arte

Evoca a lembrança de quem realmente sou

Purifica os labirintos da minha mente

Canta os Mistérios em meus ouvidos


Quanta Sabedoria chegou ao Homem através de ti!

Quantos Mestres usaram de tua Força e Magnitude para comunicar Verdades que só contigo poderiam ser expressas.

Por ti passaram os versos mais sagrados

E com tuas rimas os homens puderam memorizá-los.

Deixe-me servir a Apolo através de ti,

Verdadeira Poesia!

Companheira da Vida Interior.


Marluce Claudia