segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Abandono



Se eu pudesse dos pensamentos irrequietos
Formá-los versos e bradões metrificados,
Seriam brados de matéria não sabida;
Seriam casas e móveis desarrumados.

De rimas pobre e de recursos mais ainda,
Resta-me a angústia por dois lados aumentada:
Não consigo ao mundo passar tudo que sinto,
Não vejo meios de seguir na caminhada.

Abandono aos caminhantes porque parei.
Resta aos antigos companheiros esquecer...
Sem destino é meu andar. Me cansa, me dói,
Caio...Perdido no infinito do não-ser...

E nessa fria infinita escuridão,
Me vem um Mestre com sua chama me aquecer...
Agora a sinto em meu peito a arder,
E já me volta a harmonia da canção!

Fogo Alquímico! Fez homem do animal:
A mente indomável hoje me obedece,
A vontade prisioneira, liberta, cresce,
O abandono da arte é condicional:

Não mais desejo escrever-te, poesia,
Se for vazia de ideias tua forma.
Mas se é o brilho do Ideal que te adorna,
Quero viver-te intensamente a cada dia.


André Vasconcelos

3 comentários:

  1. Particularmente a última estrofe é uma pequena preciosidade, André. Parabéns!

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  2. me gustaria coger esta imagen para hacer un trabajo, me da permiso¿?

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