domingo, 20 de fevereiro de 2011

Amar


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Herói


Tu que em meio às trevas
Ofereces tua luz.
Tu que não te entregas
Ao que ilude, ao que seduz.

Tu que ao agir geras laços
Que nos ensinam a amar.
Tu que com os teus braços
Fazes a roda girar.

Tu que mesmo ferido
Não te deixas abater.
Tu que vences o inimigo
Que se encontra em teu ser.

Tu que marchas à frente
E assim conduzes os teus.
Tu que durante os combates
Sempre te lembras de Deus.

Tu que enfrentas a morte
E com tua espada a destróis,
És da raça dos fortes,
Dos valentes, dos heróis.
Gerson Miranda